O monitoramento das harpias é realizado por uma equipe multidisciplinar. Foto: Reprodução/ELENA.

Atividade multidisciplinar entre pesquisadores resulta em equipamento de monitoramento para harpias

Por Ghenis Carlos*

O Laboratório de Telecomunicações da Ufes (LabTel) contribuiu para a construção de um sistema de monitoramento de ninhos da águia harpia, também conhecida como gavião real. Abastecido pela energia de painéis solares, o equipamento foi elaborado em parceria com o Centro de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento do Espírito Santo (CPID) e com o Projeto Harpia. 

Apresentando aproximadamente dois metros de envergadura e mais de um metro de comprimento, a águia harpia é a maior águia do Brasil e do mundo. Sua existência, porém, se encontra em risco de extinção. Por isso o interesse de monitorar a espécie, já que essa é uma forma de entender seu modo de viver e, a partir disso, ajudar na sua preservação. 

Monitoramento

Os pesquisadores viabilizaram a estrutura necessária para alimentar três sistemas de teletransmissão, ao vivo, de ninhos de águia harpia. Dois destes estão localizados na Reserva Biológica de Sooretama, nos municípios capixabas de Sooretama e Linhares, e o outro foi instalado na Floresta Nacional de Carajás, localizada no estado do Pará.

A pesquisadora do CPID e estudante de doutorado em Engenharia Elétrica pela Ufes (PPGEE), Lohane Palaoro, explica que a inovação está no monitoramento da águia harpia, pois essa é a primeira equipe a monitorar o animal dessa forma. Ela ainda destaca que, poder atuar nesse projeto, que é de uma área biológica, desenvolve um caráter multidisciplinar para a engenharia elétrica. 

“Nós iniciamos o trabalho de monitoramento, fizemos um dimensionamento com um sistema off grid fotovoltaico, ou seja,  um sistema que abastece diretamente os aparelhos que utilizarão a energia e instalamos as câmeras que em breve devem transmitir 24h de imagens pelo Youtube”, detalha a pesquisadora.

Multidisciplinar

O coordenador do Projeto Harpia e professor do Departamento de Biologia do Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde da Ufes (CCENS),  Aureo Banhos, detalha que a tecnologia implementada funciona não só para o monitoramento da harpia, mas para toda a biodiversidade do ambiente. A previsão é que a transmissão dos ninhos esteja disponível a partir do ano que vem nas plataformas digitais do projeto. Banhos ainda frisa o papel importante dessa ação em conjunto a outros cursos, criando uma caráter multidisciplinar.

“Se não fosse essa interação multidisciplinar, nós não conseguiríamos fazer o monitoramento da biodiversidade dessa espécie. Não teríamos condições tecnológicas para executar essa atividade. Então, essa parceria possibilitou o funcionamento de um sistema de vídeo-transmissão autônomo, remoto e com alta qualidade de vídeo, sendo inédito em um ambiente de floresta tropical para monitorar os ninhos de harpias. É bastante inovador”.

Projeto Harpia

Intitulado como Programa de Conservação do Gavião-Real (PCGR), o Projeto Harpia surgiu em 1997, sendo vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). A  descoberta de um ninho de harpia em uma floresta próxima à região de Manaus deu origem ao projeto que, anos depois, ampliou as metas de mapeamento e monitoramento de ninhos. O projeto recebe o auxílio de pesquisadores parceiros, voluntários, estudantes e bolsistas.

“Essa é uma espécie ameaçada de extinção, estando na lista nacional do Ministério do Meio Ambiente e ainda sendo classificada como vulnerável em âmbito internacional. É complicado estipular a quantidade de harpias na região amazônica. Já nas poucas áreas restantes de mata atlântica ela é criticamente ameaçada ou considerada regionalmente extinta”, detalha o estudante de Biologia da Ufes, Henrique Mariano, que participa do projeto. 

Atualmente, o projeto identificou a presença de cinco ninhos no estado do Espírito Santo e quatro ninhos no estado da  Bahia, totalizando 18 aves registradas em área de mata atlântica.

Financiamento

Além do apoio da Ufes, o Projeto Harpia conta com o apoio da Reserva Natural da Vale, da Fundação Espírito-santense de Tecnologia (Fest), do Instituto Últimos Refúgios e de organizações não governamentais, como a Beauval Nature, da França, e a Tiergarten Nuernberg, da Alemanha.

O dispositivo foi validado em testes durante trabalho de campo. Foto: Reprodução/ELENA.
O dispositivo foi validado em testes durante trabalho de campo. Foto: Reprodução/ELENA.

*Estagiário de jornalismo

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